quarta-feira, 4 de abril de 2012

Biblioteca: João Lenjob

Como Encontrar um Amor
João Lenjob

Quero encontrar um amor. Devo procurar por aí. Olhar pelas esquinas, nos pontos de ônibus, saídas de escolas, empresas ou até naquelas rápidas desconcentrações do horário de almoço. Talvez este amor apareça como o mais belo e encantador ser. Que mude o nosso olhar, embaralha a retina com a íris e deixa aquele sorriso mais bobo do mundo acontecer. O meu amor tem que ser doce, tão belo como uma flor em pleno gozo de primavera e talvez a mais bela figura dentre todas as pessoas do planeta. Aquela quem faz da gente, o ser, ilustre, cativante e poderoso. Demais! Pensando bem, talvez não. Possível que não baste ser a mais fascinante donzela ou o príncipe mais encantado. Tomar que somente gostar de mim seja o relevante ou tão relevante. Mas que goste das pessoas, animais, plantas, dos sentimentos e não de coisas. Que não seja fútil, mas que não perca, sobretudo, a meiguice. Que conheça e entenda cada perda. Que saiba conquistar os objetivos com méritos e não queira ser a melhor, mas que seja a melhor sem querer. Que seja infinitamente boa para a vida e que deixe a vida retribuir à sua altura, de seu jeito, com sua justiça, mesmo indigna e incoerente, mas que forneça um alívio ou uma respiração saudável, agradável e leve ao se deitar para dormir, ou, até para acordar. Quero uma pessoa que permita que suas ações, atos condutas e respeito, ideais lecionem por ela e que ela não necessite acreditar que pode mais do que pode. Alguém que tenha sinceridade com o olhar e que seja verdadeiro com as palavras. Que se deixe cativar somente pelo carisma no coração. Que tenha a nobreza no caráter e não precise ter dinheiros, carros, apartamentos, iates, para ter nobreza. Que saiba ver a diferença entre gerações, meios de vida, cor, situações financeiras, mas que não as conheça tais terríveis faltas de semelhanças. Uma pessoa que saiba estender as mãos e também buscá-las. Que saiba ser generosa ao se desculpar e que nunca encontre a necessidade de solicitar um perdão. Que tenha maturidade nos conceitos e não na idade. Que a experiência também venha com o tempo e não com a idade. Está fácil encontrar um grande amor? Talvez seja mais correto apenas procurar. Mas o caminho não é esperar que a beleza que o grande amor tenha por fora lhe faça ter uma por dentro e sim deixar que a beleza interna transforme a externa, cada dia maior. Que permita que a chuva ostensiva e imprevista se torne gostosa. Que momentos melancólicos e parados se tornem emocionantes com sua companhia e assim ter, ver o céu sempre estrelado, a bebida mais saborosa, a comida mais gentil aos paladares e o trabalho prazeroso e nunca árduo, mesmo que excessivo. Esta pessoa eu sei que está bem próxima de nós, do que esperamos ou acreditamos que esteja. A questão não é, saber procurar e sim saber achar. Ou se prefere, fique com o belo e não com o grande amor.

A pedidos, uma crônica do nosso Editor João Lenjob para todos que pediram. A gente, como todos, espera que ele volte com mais textos.

Castelo do Poeta
twitter: @castelodopoeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário